Investigadores ligam Rildo Soares dos Santos a uma série de feminicídios em Goiás
A vida dupla de Rildo Soares dos Santos
A Polícia Civil de Goiás investiga Rildo Soares dos Santos, 33 anos, apontado como autor de uma série de assassinatos em Rio Verde (GO). Para agir, ele usava um uniforme de gari durante a madrugada, circulando pelas ruas como se fosse um trabalhador comum da limpeza urbana. O disfarce lhe permitia se aproximar das vítimas sem levantar suspeitas.
Segundo as investigações, Rildo confessou pelo menos três feminicídios e uma tentativa de latrocínio, além de outros crimes em apuração. Em sua casa, foram encontrados objetos pessoais de mulheres — como bolsas, bonecas e calçados — que levantam suspeitas sobre mais vítimas ainda não identificadas.
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| Rildo Soares dos Santos, 33 anos - Foto divulgação |
Padrão de crimes: semelhança com o Maníaco do Parque
O caso chamou atenção dos investigadores pelo modus operandi, que lembra o do famoso Maníaco do Parque, preso em São Paulo no fim da década de 1990. Assim como ele, Rildo escolhia vítimas vulneráveis — mulheres que transitavam sozinhas durante a madrugada, muitas vezes a caminho do trabalho ou em situação de rua.
Os relatos da polícia apontam ainda um traço em comum: o hábito de retornar às cenas dos crimes para observar o trabalho da perícia e sentir prazer em acompanhar a repercussão. Esse comportamento foi descrito por investigadores do caso como uma espécie de “excitação mórbida”, semelhante ao perfil do criminoso paulistano.
“Não há indícios de doenças psiquiátricas. É maldade pura”, afirmou o delegado Adelson Candeo, responsável pelo inquérito.
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| Maníaco do Parque: Condenado pelo assassinato de 7 mulheres • Agliberto Lima/Estadão Conteúdo |
O crime que levou à prisão
O assassinato da auxiliar de produção Elisângela da Silva Souza, de 26 anos, foi o que desencadeou a prisão de Rildo.
Câmeras de segurança registraram o momento em que ela caminhava com o suspeito rumo a um terreno baldio. No local, segundo a polícia, ela foi esganada até desmaiar e depois teve o rosto brutalmente desfigurado com golpes repetidos na cabeça.
O corpo foi abandonado em um buraco de cimento, parcialmente coberto por pedras e sem as roupas íntimas.
“O rosto da vítima ficou completamente destruído. É impossível precisar a quantidade de pancadas”, detalhou o delegado.
Outras vítimas confirmadas
Além de Elisângela, a Polícia Civil relaciona Rildo aos assassinatos de Monara Pires Gouveia de Moraes, 31 anos, e Alexânia Hermógenes Carneiro, conhecida como Lessi.
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Monara sofreu traumatismo craniano, foi carbonizada e teve o corpo queimado com um colchão incendiado. O próprio Rildo relatou em depoimento que subiu sobre a cama-box em chamas para impedir que ela escapasse.
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Alexânia, por sua vez, foi espancada e enterrada em um terreno baldio. A polícia apura se seu assassinato ocorreu no mesmo dia do desaparecimento de Ingrid, jovem que ainda não foi encontrada.
Na casa do suspeito, foram apreendidas oito bolsas, três bonecas e pares de calçados femininos, considerados indícios de novos crimes. Para os investigadores, esses objetos podem pertencer a outras vítimas ainda não identificadas.
Ataques a homens
Apesar de mirar principalmente mulheres, Rildo também teria tentado assassinar homens.
Um colega de moradia, identificado como Josenilton, afirmou que o suspeito tentou invadir seu quarto armado com uma faca durante a madrugada. Ele só não foi morto porque reagiu com um martelo em mãos, o que fez o agressor recuar.
Outro sobrevivente, Cristiano, foi atacado enquanto dormia dentro de um carro. Teve o pescoço cortado, mas conseguiu escapar e pedir ajuda. O veículo foi roubado e incendiado. Objetos de Cristiano foram localizados posteriormente na residência de Rildo.
“Todos os crimes têm traços de perversidade evidentes”, reforçou o delegado Adelson Candeo.
Impulso incendiário e histórico na Bahia
Segundo os investigadores, Rildo tinha um comportamento compulsivo em relação ao fogo. Além de queimar o corpo de Monara, ele também incendiou o carro de um antigo patrão e chegou a atear fogo em uma casa durante outro ataque.
A polícia suspeita ainda que ele tenha cometido crimes semelhantes na Bahia, seu estado natal. Relatos de homicídios, estupros e roubos em Salvador permanecem sem solução e agora podem ser reabertos para verificar possível ligação.
Aparência de homem comum
Apesar da brutalidade dos crimes, vizinhos e conhecidos descreviam Rildo como uma pessoa aparentemente normal.
Ele chegou a trabalhar temporariamente na empresa de limpeza urbana de Rio Verde, o que explica a posse de uniformes de gari. O disfarce lhe permitia circular à noite sem levantar suspeitas.
A esposa, de nacionalidade francesa, relatou nunca ter sido agredida, mas contou que ele tinha hábitos estranhos: saía de madrugada para “caminhar” e escondia facas em diversos cômodos da casa.
“Ele não tem nenhuma causa de inimputabilidade. Tem plena consciência de seus atos. É um cidadão extremamente perverso e violento”, concluiu o delegado.
Comparação com o Maníaco do Parque
A investigação da Polícia Civil de Goiás encontrou semelhanças entre o perfil de Rildo e o de Francisco de Assis Pereira, o chamado Maníaco do Parque, que aterrorizou São Paulo no fim da década de 1990.
Assim como Francisco, Rildo:
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Escolhia vítimas vulneráveis em situações de deslocamento durante a madrugada;
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Usava disfarces para não despertar desconfiança (no caso dele, o uniforme de gari);
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Retornava às cenas do crime para acompanhar a repercussão e sentir prazer em ver a investigação se desenrolar.
Esse comportamento, descrito como uma espécie de tara criminal, é interpretado pelos peritos como sinal de frieza e sadismo.
“Não há qualquer indício de doença psiquiátrica, é maldade pura”, reforçou o delegado Adelson Candeo.
Impacto social e alerta às mulheres
Os crimes abalaram a cidade de Rio Verde e causaram enorme medo em mulheres que circulam sozinhas de madrugada. Em coletiva, a Polícia Civil reforçou orientações de segurança:
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Evitar locais ermos em horários noturnos;
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Buscar companhia para deslocamentos;
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Gritar por socorro em caso de abordagem suspeita.
“Grite, eles são covardes. O grito espanta o agressor”, aconselhou o delegado.
A Prefeitura de Rio Verde também anunciou reforço no patrulhamento de áreas mais vulneráveis, especialmente rotas de trabalhadores que saem de madrugada.
O que diz a defesa
A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) assumiu a defesa de Rildo. Em nota, o órgão informou que apenas representou o investigado na audiência de custódia que confirmou a prisão preventiva, mas que não irá comentar as acusações no momento.
A defesa deve avaliar os próximos passos processuais, enquanto a polícia segue colhendo provas e cruzando informações de outros possíveis crimes, inclusive em Salvador (BA), cidade natal do suspeito.
O caso de Rildo Soares dos Santos reacende o debate sobre a segurança de mulheres em cidades médias do interior do país e escancara a necessidade de políticas públicas voltadas à proteção de grupos vulneráveis. A frieza relatada nos depoimentos, aliada ao modus operandi semelhante ao do Maníaco do Parque, coloca o nome do suspeito na lista dos criminosos mais cruéis investigados nos últimos anos em Goiás.
A polícia ainda apura se há mais vítimas a serem identificadas, o que pode ampliar a lista de crimes atribuídos ao chamado “gari da madrugada”.
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